A taxa Selic, principal instrumento utilizado pelo Banco Central para controlar a inflação e balizar os juros do país, sofreu um ajuste significativo em setembro de 2024, após decisão do Comitê de Política Monetária (Copom). Com a elevação de 0,25 ponto percentual, a Selic alcançou 10,75% ao ano, representando o primeiro aumento desde agosto de 2022. Esta mudança marca um momento de virada na política monetária brasileira e levanta questões importantes sobre seus impactos econômicos, especialmente no setor de construção civil.
Variação da taxa Selic (2023 – 2024)
1. Aumento da Taxa Selic em 2024: Motivações e Decisões
Em junho de 2023, o Copom havia iniciado uma sequência de cortes na Selic, interrompida em maio de 2024, quando a taxa foi mantida em 10,50%. No entanto, o cenário econômico em setembro de 2024 demandou um ajuste para conter as expectativas de inflação, que estavam acima da meta estabelecida. A decisão foi unânime entre os diretores do Banco Central, que citaram o aumento do dinamismo na atividade econômica e no mercado de trabalho como fatores que justificaram a elevação da Selic.
No comunicado emitido pelo Copom, o órgão destacou que o ritmo e a magnitude dos ajustes futuros dependerão da evolução da inflação, das expectativas econômicas e do balanço de riscos do cenário interno e externo.
2. Expectativas para a Selic em 2024 e Além
Analistas do mercado acreditam que o aumento de 0,25 ponto percentual na Selic não será o único em 2024. A previsão é que os juros continuem subindo até atingir 11,50% em janeiro de 2025, com novas quedas esperadas para meados do ano seguinte. De acordo com o Relatório Focus, publicado pelo Banco Central, a expectativa é que a taxa encerre 2024 em 11,25%, com uma trajetória de queda nos anos subsequentes: 10,50% em 2025, 9,50% em 2026 e 9% em 2027.
3. O Contexto Global e a Posição do Brasil
O aumento da Selic no Brasil contrasta com o movimento global de relaxamento monetário. No mesmo período, o Federal Reserve (Fed) dos Estados Unidos optou por reduzir sua taxa de juros em 0,5%, seguindo a tendência de outros países, como o Reino Unido e a zona do euro, que também diminuíram suas taxas. Com a Selic em 10,75%, o Brasil atualmente ocupa a segunda posição no ranking mundial de juros reais, ficando atrás apenas da Rússia.
4. Impactos da Selic na Construção Civil
A construção civil, um dos setores mais sensíveis à variação da Selic, será diretamente afetada por essa elevação. A Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC) alerta que o aumento dos juros cria obstáculos significativos para investimentos em infraestrutura e reduz o volume de depósitos na caderneta de poupança, dificultando o financiamento imobiliário.
De acordo com Renato Correia, presidente da CBIC, o aumento dos juros compromete a renda dos trabalhadores e a capacidade de aquisição de imóveis, o que pode desacelerar o setor de construção, fundamental para o desenvolvimento econômico do Brasil. Um relatório da economista Ieda Vasconcelos, da CBIC, estima que cada ponto percentual adicional na Selic representa um aumento de R$ 40 bilhões por ano em despesas com juros, prejudicando o crescimento econômico do país.
5. Como a Selic Impacta o Mercado Imobiliário
A Selic exerce uma influência direta sobre o mercado imobiliário, especialmente no que diz respeito ao financiamento de imóveis e aos empréstimos captados por construtoras. Quando a Selic se mantém alta por períodos prolongados, o custo do crédito aumenta, o que resulta em uma queda no número de financiamentos e, consequentemente, na redução da demanda por novos projetos.
Essa dinâmica afeta diretamente a geração de empregos e o desenvolvimento de novos empreendimentos, já que menos projetos são lançados e o estoque de imóveis tende a aumentar. Em contrapartida, quando a taxa Selic é reduzida, o otimismo no setor cresce, incentivando novos investimentos e o aquecimento do mercado imobiliário.
6. O que é a Selic?
A Selic, sigla para Sistema Especial de Liquidação e Custódia, é a taxa básica de juros da economia brasileira. Ela serve como referência para operações de crédito, financiamentos e também é usada como ferramenta para controlar a inflação. As decisões sobre a Selic são tomadas pelo Copom, que se reúne a cada 45 dias para avaliar a necessidade de ajustes.
Além de influenciar diretamente o custo do crédito e o rendimento de investimentos em títulos públicos, a Selic impacta o cotidiano da população, afetando preços de produtos e serviços. As mudanças na taxa, no entanto, não têm efeito imediato na economia, podendo demorar entre seis e 18 meses para surtir impacto completo.
Conclusão
A elevação da taxa Selic em setembro de 2024 reflete a necessidade de controle inflacionário em meio a um cenário econômico de maior dinamismo. No entanto, os efeitos dessa medida serão sentidos principalmente em setores como o da construção civil, que dependem diretamente do custo do crédito. As expectativas futuras indicam uma possível continuidade no aumento dos juros até o início de 2025, com novas reduções previstas para o final do ano, o que poderá trazer um novo fôlego para o mercado e a economia brasileira como um todo.